Hoje completa exatamente um ano e dois dias desde a minha festa de formatura da faculdade. Entre o sonho de estudar direito na USP e conseguir realizá-lo, passaram quatro anos. Entre a primeira e a última vez que eu coloquei os pés na faculdade como aluna, foram mais cinco.
Durante esses nove anos entre sonhar com a faculdade e sair dela eu tinha muita clareza do porquê estudar Direito no Largo de São Francisco, embora não soubesse muito bem para quê. Agora, um ano depois de formada, o para quê despenca na minha cabeça diariamente, e eu ainda não tenho uma resposta. Enfim, formei. E agora, José?
Quando pus as mãos no meu diploma decidi que 2017 seria um ano de descanso. Quer dizer, mais ou menos. No começo do ano eu prestei a OAB, passei. Daí inventei de prestar o mestrado na USP e só durante um mês eu consegui ler parte da bibliografia para prova. Nem preciso dizer que não passei, né? 😛 Depois, desencanei de vez e fiquei apenas curtindo a vida.
A impressão que eu tenho é que, sem um projeto desafiador de longo prazo relacionado ao Direito, sem algo que me traga algum sentido de evolução profissional, falta alguma coisa.
E ainda que as pompas e formalismos do Judiciário não me atraíam nem um pouco e eu goste muito do meu trabalho, eu gostaria de ter uma profissão com mais autonomia, e por isso eu penso muito em seguir a magistratura e ser juíza.
Aí, nessas horas, o diabinho do lado direito fica sussurrando no meu ouvido: vá, venda sua alma jovem aos concursos… priorize algo que você não tem certeza se quer e quanto tempo vai levar para conseguir… adicione mais horas estressantes no seu dia… faça isso logo! Sabe os seus hobbies? Postergue eles mais um pouco… ande! Você tem pressa! Logo chegará aos trinta, a vida ficará mais pesada, você estará mais velha… “resolva” sua vida logo!
Só que, ao mesmo tempo, o diabinho do lado esquerdo também está sussurrando (sim, tenho dois diabinhos) : que bobagem… você é jovem, tem todo o tempo do mundo… não se preocupe com isso agora, vá curtir a vida. Procure fazer outras coisas no seu trabalho, mas esquece isso de concurso… magistratura é ego, é luxo, é sofrimento desnecessário…
Entre os dois diabinhos está a minha cabeça, que de vez em quando fervilha toda essa indecisão e quer mais é voltar a brincar de massinha e comer danoninho enquanto assiste TV Globinho. Saudades.
Com o final do ano esse conflito interno está ganhando proporções maiores e, de vez em quando, tenho até vergonha de conversar a respeito dele com outras pessoas porque tenho a impressão de ser chata ou repetitiva demais.
Eu só queria uma solução “certa”, sabe? Uma solução que não me trouxesse sofrimento ou arrependimento depois.
Mas a verdade é que não existe certeza. O caminho é um risco e eu só vou descobrir se faz sentido, se vale a pena, experimentando e tomando consciência das minhas motivações.
E isso é fácil falar, mas (ainda) é difícil fazer, né mores. E tudo bem ser difícil: confia no processo, e só vai! Aceitar a incerteza e tentar nem sempre são coisas fáceis, mas elas trazem paz e isso é o mais importante.
Talvez esse “mal estar” com a falta de perspectivas no longo prazo seja normal. Não conheço quem tenha certeza de tudo o tempo todo (e se essas pessoas existem, Deus me perdoe, mas devem ser muito chatas).
Lá no fundo eu sei que toda essa pressa e medo de fracassar não fazem sentido algum.
Eu sei, também, que não existe apenas um único concurso bom e que, inclusive, na minha área concursos não são o único trabalho decente do mundo. Eu sei que as possibilidades são infinitas, mas, ao mesmo tempo, parece que ainda não vejo muita saída, sabe?
A única certeza que tenho hoje é que, independente de qual caminho seguir, enquanto for possível eu não vou abrir mão de fazer coisas que amo – coisas que, durante muito tempo, precisei postergar por conta de “outros compromissos inadiáveis” ou por não ter dinheiro algum.
Ouvir música pela manhã, fazer exercícios, estudar assuntos do meu interesse e passar tempo com quem amo… São essas as doses de amor que me sustentam, me alegram e trazem sentido aos meus dias, diminuindo o impacto das minhas confusões profissionais. Esse ano descobri que, apesar de tudo, se a gente quiser a vida pode ser mais leve.
Jogar a felicidade para o futuro é uma ilusão, porque ela só pode ser vivida no presente.
No mais, sigo o baile.