Você já sentiu ter mais necessidades do que recursos?
Pode ser que, com a agenda lotada de compromissos e trabalho, você sinta falta daquelas horinhas a mais de sono, de se exercitar, e de tempo para fazer um curso ou encontrar pessoas queridas.
Caso você passe por dificuldades financeiras, provavelmente convive com a tensão da dúvida “será que vai faltar dinheiro?”.
Essa sensação de necessidade e as consequências dela sobre nós foram o tema de pesquisas que deram origem ao livro “Escassez”, escrito por Sendhil Mullainathan, professor de Economia da Universidade de Harvard, e Eldar Shafir, professor de Psicologia na Universidade de Princeton.
A intenção do post não é resumir o livro, mas apresentar algumas ideias capazes de ajudar a compreender o problema da escassez e procurar formas de resolvê-lo.
Então, vamos lá 🙂
O que é escassez?
Como já dito ali em cima, os autores definem escassez como “a sensação subjetiva de ter mais necessidades do que recursos”.
A sensação de necessidade pode ser de qualquer coisa. Sim, qualquer coisa! Companhia, tempo, dinheiro, descanso, comer, emagrecer, coisas, e por aí vai…
Consequências da escassez na nossa mente
Excesso de foco
Os autores explicam que, quando experimentamos a escassez, nossa mente fica tomada com preocupações sobre como resolver ela o mais rápido possível.
Por essa razão, ficamos muito focados no que fazer para resolver – o que, por um lado, é muito bom. Porém, o excesso de foco pode trazer alguns problemas…
Negligência
Um deles é que negligenciamos o que está fora do foco.
O lado ruim da negligência é que ela atinge até mesmo coisas que também são importantes para nós e que podem nos ajudar a conquistar nosso objetivo mais rápido.
Como resultado da negligência, podemos tomar atitudes que piorem nossa situação.
É o que acontece quando, com o objetivo de resolver um problema imediato, fazemos um empréstimo financeiro ou deixamos de pagar uma conta, ignorando a aplicação de juros e multa – o que nos deixa ainda mais sem dinheiro.
Outro exemplo é quando estamos extremamente focados no trabalho e deixamos de passar tempo com a família, comer bem, descansar e fazer exercícios. Lá na frente a vida cobrará com juros: relacionamentos desgastados ou fracos, saúde física e mental debilitada.
Nota pessoal: A meu ver, saber que a negligência é um fenômeno que não acontece por vontade da pessoa pode ser o detalhe que falta para levar uma vida com relacionamentos familiares e amorosos mais compreensivos e pacíficos.
É que, no fundo, cada um faz o que pode, na hora que pode, com os recursos que tem, buscando o melhor possível.
E, com a consciência de que a negligência não é intencional, todos os envolvidos podem pensar em ações para superá-la, sem ressentimentos ou discussão de culpa.
Psicologia do engasgo
Um outro problema do excesso de foco é o aumento da ansiedade, causando a “psicologia do engasgo”.
Ansiedade não é uma coisa ruim, desde que em ‘doses’ adequadas. Afinal, é ela que nos põe em alerta e nos movimenta para resolver coisas.
O problema é que, em excesso, ações que costumam ser automáticas podem “engasgar” simplesmente porque pensamos demais nelas.
Basta pensar em um atleta ou em um músico experientes. Se o atleta experiente pensar em cada movimento que faz, ou se o músico experiente pensar em cada nota que toca, provavelmente terão um desempenho mais lento, e as chances de errar serão maiores.
Nota pessoal: Ao menos para mim, essa ideia do livro faz todo sentido. Já vivi muitas situações em que, apesar de ter me preparado muito, tive um desempenho mediano ou ruim por puro nervosismo.
Uma dica para reduzir a ansiedade é ter mais de um ponto de interesse, não depositar todos os ovos numa cesta só. Afinal, se algo der errado, as outras coisas seguirão.
Processo irônico
Além da negligência e do engasgo, o excesso de foco em algo carrega a angústia de suprir a necessidade.
E, na tentativa de não sentir a angústia, tentamos “não pensar” no assunto angustiante. O problema é que tentar não pensar alimenta ainda mais nossos pensamentos.
É aquela brincadeira do elefante branco: Não pense em um elefante branco. Qual foi a primeira coisa que você pensou? Pois é.
O nome desse fenômeno psicológico é processo irônico, e ele torna difícil manter o autocontrole e tomar boas decisões.
A saída para resistir a impulsos é mudar o foco. Não prestar atenção naquilo que não queremos pensar, ou seja, não ouvir, não olhar e procurar outras coisas para fazer.
Nota pessoal: Apesar do foco do livro ser sobre escassez, saber da existência do “processo irônico” e adotar estratégias para fugir dele é muito útil para reduzir sofrimento em qualquer área da vida.
Demissão, términos de relacionamento, brigas, ou qualquer coisa que nos desperte sentimentos negativos… como superar?
Mude o foco, mude o foco, mude o foco! Procure outra atividade, tire da visão tudo que te faça lembrar “a coisa ruim”, faça atividades que te deem prazer, e deixe o tempo agir!
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Essas são só algumas das ideias do livro, mas tem muitas outras coisas interessantes que vou deixar para um próximo post.
Recomendo fortemente a leitura, especialmente quem curte assuntos relacionados a desenvolvimento pessoal.
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E aí, você acha que a ideia dos autores faz sentido? Já viveu alguma dessas situações?
Me conta nos comentários 🙂