Com certeza você já ouviu falar de Law and Order, How to Get Away With a Murderer, ou Suits… Tenho certeza de que também já assistiu vários filmes e novelas sobre crimes, disputas judiciais e Tribunais. Arrisco a dizer que, quando você pensa em Justiça, automaticamente também pensa em processo e rios de dinheiro pagos a advogados. Não é?
E se eu te dissesse que a Justiça vai muito além de processos judiciais com textos rebuscados, advogados eloquentes e juízes com toga e cara de maus?
E que tem muita gente boa da área jurídica estudando outras formas de resolver conflitos, com economia de tempo e dinheiro, linguagem simples e preocupação com questões emocionais?
O “Processo Circular”*, ou Círculo de Paz, é uma dessas formas diferentes de enxergar e resolver conflitos. A técnica dos Círculos de Paz é uma forma de estabelecer conexão profunda entre as pessoas, unidas pela humanidade, profundidade e beleza de suas experiências individuais.
A ideia dos Círculos de Paz é criar um espaço de conversa em que todos são ouvidos sem interrupção pelos demais, experienciando explorar sua própria essência e vivenciar princípios de liderança compartilhada, igualdade, inclusão, apoio, entre outros.
É uma técnica que pode ser usada para resolver conflitos em que as relações interpessoais são importantes. Por exemplo, em ambientes escolares, famílias e equipes de trabalho.
A Renata Zarantonelli é professora de Yoga, jurista, e faz parte do grupo de pessoas que acredita que a Justiça também se dá pelo autoconhecimento e pelo diálogo.
Ela é uma das criadoras do projeto “Circula Mundo”, que usa a técnica dos Círculos de Paz, e vai contar para nós um pouquinho sobre ele 🙂
Vamos lá!
1)Conte um pouco do projeto “Circula Mundo”. Como foi que ele surgiu? Qual é o objetivo dele? Quais resultados ele já alcançou?
Conheci as outras duas fundadoras do Circula Mundo (Fernanda Gutierrez e Patricia Nacarato) em um Curso Introdutório de Justiça Restaurativa, realizado na EPM (Escola Paulista da Magistratura), no qual algumas pessoas foram selecionadas para fazer a Formação de Facilitadores de Processo Circular. Entre elas, nós três!
Após o curso, ficamos perdidas! Queríamos muito aplicar tudo que havíamos aprendido, mas não estávamos nos locais certos e, também, não haviam vagas. Foi desse “conflito” que surgiu o Circula Mundo. Provando, mais uma vez, a potência criadora que as crises carregam dentro de si!
A Justiça Restaurativa diz sobre um novo paradigma de olhar os conflitos, diz sobre o estabelecimento de relações mais justas e profundas, reconhece cada ser humano em sua potência e acredita que todas as histórias, sem exceção, merecem ser reconhecidas e valorizadas. Isto é muito profundo para mim!
São os valores que sempre carreguei e o sentido que buscava em minha vida!!
O Processo Circular é a principal ferramenta para sua execução, mas também pode ser usado em outros contextos, como para celebrações, conversas etc.
Criamos o Circula Mundo com todo esse objetivo. Só sabíamos que queríamos expandir esse entendimento, facilitar círculos e poder despertar em outras pessoas, tudo aquilo que fazia tanto sentido para nós!
Nossos pedidos foram ouvidos bem rápido e demos sorte. Em cerca de um mês, tivemos contato com a Renata Mendes, fundadora do Instituto Mundo Aflora, que dá aula de Yoga e faz alguns trabalhos de autoconhecimento dentro da Fundação Casa.
Alinhamos e, em pouco tempo, estamos com um Projeto para realização de seis círculos de paz na Unidade Chiquinha Gonzaga.
Objetivo: Uma profunda reflexão de padrões mentais e de comportamento pelas internas, a tornar possível a autovalorização e a conscientização de eventuais mudanças necessárias, em benefício a sua vida como um todo.
Naquele projeto, em especial, havia uma atenção à relação familiar, já que foram selecionadas pela Equipe Técnica treze meninas que recebiam visitas com frequência e o quinto círculo seria em dia de visita, com a participação de todos!
O resultado do Projeto foi surpreendente – até para nós mesmas! -, foi feita análise de Impacto Social e tudo!! Isto nos rendeu uma reunião com o Corpo Técnico do local (assistentes sociais e psicólogas), a realização do Segundo Projeto naquela mesma unidade e um convite para realizar uma apresentação no novo Curso de Formação de Facilitadores de Processo Circular, que já estava sendo realizado na EPM.
Acredito que este foi nosso maior resultado, pois foi este Primeiro Projeto que nos deu confiança para seguir em frente, comprovar o poder dos Círculos e ter muita motivação para seguir em frente!
2) Qual a sua memória mais marcante relacionada ao “Circula Mundo”?
Vale falar abraços? rs… Em regra, os cumprimentos entre nós e as participantes mudam completamente na chegada e na saída dos Círculos.
Muitas das vezes, chegamos com um oi desconfiado e saímos das atividades recebendo abraços tão sinceros, que emocionam. Volto para casa sempre transformada!
3) Você também é praticante e professora de Yoga. Como surgiu seu interesse pela Yoga?
Tive uma alergia bem feia nas mãos há alguns anos atrás, fui em todos os médicos possíveis: alergologistas, dermatologistas, clínico geral, nutricionista… até meu sangue para Alemanha eu mandei, acredita?
Eles me receitavam, no máximo, resoluções paliativas, como pomadas, mas era só parar e tudo voltava. Eu não me conformava e estava indo a fundo para descobrir o porquê daquilo.
Muitos profissionais me diziam que a causa era emocional e eu não acreditava no começo, pensava que era desculpa. Até a hora que eu decidi tentar cuidar da mente.
Cheguei no Yoga e, em pouco mais de um mês, minha alergia passou! Fiquei em choque e sabia que, ali, estava escondido um grande e lindo aprendizado e estava certa. O Yoga mudou e muda minha vida constantemente até hoje!
4) Como você se sente quando pratica e quando ensina Yoga?
O Yoga é uma grande filosofia de aceitação, humildade e do despertar do amor em sua forma mais pura e incondicional. É tudo isso que eu sinto praticando e dando aulas.
E como não sentir uma enorme paz depois de tudo isso? rs.. Yoga é isso… é a conscientização de você!
É focar a atenção no seu corpo, em sua respiração e sentimentos. É perceber suas facilidades e limitações e, com disciplina e autoaceitação, buscar superá-las pouco a pouco.
É descobrir que cada um tem um ponto mais maleável e mais duro, mas que tudo bem, porque, no fundo, somos iguais e fazemos parte de um todo, um todo calmo e tranquilo, que vamos aprendendo a acessar com as práticas, porque a verdade é que “somos apenas uma parte do todo, mas, ao mesmo tempo, somos o todo inteiro” e percebendo isso, a vida vira pura magia!!
Ah, sobre a prática, penso que é importante falar que, aqui no Ocidente, conhecemos o Yoga em seu aspecto apenas corporal, só os ásanas (posturas), mas isso é só uma parte do Yoga, que é uma filosofia mesmo. Exercícios respiratórios, estudo da mente, meditações e por ai vai. Yoga é uma grande fonte de conhecimento!
5) Atualmente, quais são os maiores desafios ligados aos seus projetos?
Tempo! Acho que é o grande desafio da atualidade, né?
Mas, no meu caso, todas essas atividades que me trouxeram aqui (Yoga, Processos Circulares e Justiça Restaurativa) são complementares ao meu trabalho. Não é delas que eu tiro o meu sustento e o salário para pagar as minhas contas e meus cursos.
No caso da Justiça Restaurativa e dos Processos Circulares, tem também a cultura do voluntariado, o que torna muito difícil poder viver disso.
6) Como você se imagina daqui cinco anos?
Eu só espero estar cada vez mais envolvida em toda essa consolidação da Cultura de Paz! Me imagino sendo uma peça neste despertar, principalmente em escolas.
Se a escola é a base de qualquer mudança realmente profunda e estrutural e para lá que vamos! O Circula Mundo já está nesta empreitada 🙂
7) Uma palavra sobre você mesma.
Amor!
8) Uma palavra para 2019.
Transformação!
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E aí, vocês já tinham ouvido falar dos Círculos de Paz? O que acharam?
Me contem nos comentários 🙂
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*Fonte da definição de Processo Circular: PRANIS, KAY. “Processos Circulares”, série Da Reflexão à Ação, tradução de Tônia Van Acker – São Paulo: Palas Athenas, 2010.