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Quem tem medo de seios pequenos?

Eu já tinha escolhido mentalmente a roupa fazia uns dias e não me preocupei em provar antes. Já era o dia da festa e o ritual estava sendo meticulosamente realizado: saí do banho, sequei os cabelos, passei hidratante, fiz a maquiagem. Faltava só me vestir. Primeiro o sutiã, depois o vestido. Lindo. Até a hora de amarrar o laço das costas.

“Meu sutiã está aparecendo, a roupa está caindo pelos ombros, não está legal…”, pensei. Na tentativa de esconder o dito cujo, pedi ajuda à minha irmã para dar um laço de outro jeito, talvez mais forte. Mas ele continuava aparecendo. “Que tal mudar de sutiã? Talvez aquele de silicone adesivo, que gruda no corpo”. Troquei. “Quem sabe esse com um enchimento maior não fica bom?…”.  Troquei de novo.

Tudo em vão. Não existia nó que desse jeito, nem sutiã que resolvesse. As alças continuavam a cair e, se eu inclinasse levemente para frente, os sutiãs apareciam por inteiro. O fato é: eu não tinha peito suficiente para caber na roupa. E agora, José?

Cogitei trocar de vestido. Seria admitir a derrota?

“Talvez se eu colocasse silicone eu não estaria passando por isso agora”

“Meus peitos seriam muito mais bonitos se fossem maiores”

“Além de ser mais bonito, o inferno de comprar biquíni, vestidos ou blusas não existiria mais”

Eu tinha que decidir se abandonava o vestido e partia para um Plano B, mas minha teimosia me dizia para insistir, procurar uma outra solução, algo que eu não havia pensado antes…

“Deve ter um jeito, só preciso descobrir”

Quem nunca?

Aí eu me olhei no espelho, nua. Vi meus seios pequenos, pareciam inofensivos. Quem vê de fora talvez não imagine o sofrimento que eles possam causar. E, nesse ato de me olhar, lembrei de como eu era dez anos atrás, na época do colegial.

Lembrei das várias vezes em que me sentia menos atraente, menos feminina, quando me comparava com minhas colegas que conseguiam usar roupas com decote.

Lembrei das vezes em que comprava biquínis e precisava pedir a calcinha dois números acima do sutiã, e eu me sentia uma bosta.

Ah, também tinha o quadril… Lembrei de quando ia comprar calças jeans e elas “travavam” na região das coxas, porque meu quadril era largo demais. Eu odiava comprar roupas. E durante um tempo razoável, até o início da vida adulta, eu não gostava do meu corpo.

Quando vou ter peitos de verdade? (Tradução livre)

Sorte que, conforme envelhecemos, percebemos que tempo e distância têm o poder de mostrar o que realmente importa. Não vou mentir e dizer que é super legal ter seios pequenos. Mas, além de reconhecer algumas vantagens que eles proporcionam (não ter dor nas costas e dormir de bruços, por exemplo), já não sofro como antes porque outras coisas passaram a ter mais valor.

Valorizo estar com quem me faz sentir bem, ainda que eu não preencha esses padrões. Busco relações em que eu naturalmente me encaixe, e não as que eu tenha que arrumar um jeito me encaixar. Da mesma forma, procuro roupas que me façam sentir bem. Saber escolher o melhor para si é um ato de amor próprio.

Também foi importante treinar meu olhar para ver beleza nas coisas, porque ela sempre existe. Hoje consigo olhar para meus seios naturais e me sentir bonita.

Acho que o caminho é esse: fazer escolhas melhores, tanto de coisas quanto de relacionamentos (não falo só de crushs, mas de amizades também), e treinar nosso olhar para toda beleza que existe por aí.

Colocar silicone não é mais um desejo, mas pode ser que um dia volte a ser. Já fui o tipo de pessoa que condenava meninas que cediam ao machismo capitalista e se submetiam a cirurgias para ter peitos grandes, mas hoje penso que uma das maiores bobagens do mundo é condenar decisões que as pessoas tomam quando estão sofrendo. Cada um faz o seu melhor, com as ferramentas que tem, no tempo que pode, e é isso. Se é para se sentir bem, por que não?

Fiquei muito irritada com o vestido, é verdade. Por alguns minutos me senti feia e aquelas sensações ruins do colegial e de não gostar do próprio corpo retornaram. Mas elas logo passaram quando percebi que o “problema” não era meu corpo não ser feito para o vestido, mas  sim o vestido não ser feito para o meu corpo.

Ao final, encontrei a solução que procurava. Aproveitei outra vantagem de ter seios pequenos: abandonei o sutiã.

Como já não existia tentativa de decote, deu para fazer um laço nas costas que deixou o vestido bem rente e, ainda que as alças caíssem, já não havia nada para ser mostrado. Agora era o vestido que se adequava ao meu corpo.

Enfim, me senti bela e pronta para a festa ♥

*

Ps1: O Buzzfeed recentemente fez uma postagem sobre “9 coisas que só entende quem tem seios (bem) pequenos“, vale a pena dar uma olhada.

Ps2: Nas andanças da internet descobri o GWSMag

Para quem sofre com peitos e não se encaixar em padrões, recomendo a leitura desses dois textos:

Ter amor próprio e autoestima significa não querer mudar nada em você?
Eu fiz mamoplastia redutora