Há alguns meses eu descobri um fenômeno interessante sobre mim mesma. Descobri que há um bom tempo eu me afastei de qualquer entretenimento que pudesse despertar sentimentos. Nada de séries, romances, filmes, teatro. A única exceção era a música, e olhe lá.
No lugar, passei a dedicar meu tempo livre a aprender coisas. Li vários livros sobre relacionamentos, finanças, produtividade e desenvolvimento pessoal. Comecei a assistir vídeo-aulas sobre fotografia, música, investimentos, alemão.
Sinto forte entusiasmo em fazer coisas novas, em conhecer outras ideias, descobrir os “porquês” do que está ao meu redor e, especialmente, quando noto o meu progresso no aprendizado. É divertido e gratificante 🙂
Mas, ao mesmo tempo em que meu entretenimento passou a ser, hm, digamos, cada vez mais técnico, menos eu me abria às pessoas à minha volta. Passei a interagir menos em redes sociais e na vida real. Muitas vezes deixei de expressar como eu me sentia. Evitava o contato com coisas que pudessem fazer eu me emocionar.
Só que evitar não faz as emoções desaparecerem. Pelo contrário, é como aumentar o fogo de uma panela de pressão e deixar ela lá, esquentando, até explodir… Sujando tudo ao redor… correndo o risco de machucar outras pessoas…
Tristeza, alegria, raiva, angústia, dúvidas? Tanto faz. Colocava tudo dentro da mesma caixinha e guardava dentro de mim.
Uma das poucas exceções a essa regra eram os dias de terapia, o momento sagrado para tentar por o que tem aqui dentro em ordem.
O curioso é que esse fenômeno foi espontâneo. Não é que eu acordei um belo dia e decidi “a partir de hoje, mais razão, menos emoção!”. Aconteceu. Simplesmente me fechei.
E, quando eu penso sobre as razões disso, uma hipótese me vem à mente. É que, durante determinado período, eu vivenciei emoções tão intensas que eu cheguei em um limite, me esgotei, saturei.
Não quero mais falar sobre determinados assuntos porque não sei se vai sair algo bom de dentro se continuar cavucando. Talvez não tenha mais o que cavucar, porque as coisas são como elas são. Talvez é melhor deixar tudo quieto. Esquecer? Nem sei se isso é possível, mas não custa tentar.
Cheguei ao ponto de não reconhecer a mim mesma nas “memórias” que o Facebook me mostra de vez em quando. Eu leio o que escrevi e não consigo me ver naquilo porque, hoje, eu jamais teria publicado.
E eu sei que nenhum dos extremos é bom…
Não quero ser a pessoa que sai por aí falando sobre suas frustrações pessoais com qualquer estranho na rua, mas também não quero ser a pessoa que tem vergonha de dizer o que sente para quem importa.
Não quero ser a pessoa super exposta em redes sociais, mas também não quero me sentir idiota só porque me expressei em posts, fotos ou vídeos.
Como atingir o meio?
Sei que é lá que a virtude está, mas, às vezes, parece tão difícil…
Aqui, um lembrete pra mim mesma: Está tudo bem falar o que sente, apenas porque sente. Não é preciso procurar razão ou utilidade para tudo. Não é preciso se controlar o tempo todo só porque, racionalmente, algumas coisas não fazem sentido.
Afinal, como disse um filósofo por aí, o coração tem razões que a própria razão desconhece. E tá tudo bem.
➡ Créditos das ilustrações do post: Chibird <3