Em um dia como outro qualquer, acabei por encontrar um livro pequenino que me chamou a atenção a começar pelo nome, ‘desCasos’ (escrito desse modo), seguido pela imagem que ilustra a capa, uma gaiola na qual se vê vários passarinhos – uns mais claros, outros mais escuros – amontoados, sem ser possível ver os detalhes – penas, olhos, bico – que individualizam cada um dos bichos.
O livro conta casos da vida real de pessoas à margem da sociedade, que acabam sendo vítimas de um direito penal de massa, racista e elitista. São pobres que, ou contratam advogados ruins, ou simplesmente permanecem sem defesa, muitas vezes presos injustamente, sob fundamentos que estão bem distantes de assegurar algum tipo de justiça.
Mais por ser curiosa do que por ser estudante de direito, logo fiquei tentada a ler todos os ‘desCasos’ narrados pela extraordinária Alexandra Szafir, advogada que descobriu ser portadora de ELA (esclerose lateral amiotrófica) há alguns anos.
A ‘ELA’ ficou famosa com o ‘desafio do balde de gelo’ que viralizou em 2013 e tinha por objetivo arrecadar dinheiro para a pesquisa da doença. É uma doença degenerativa e sem cura, que vai aos poucos paralisando os músculos do corpo, até mesmo os da face e os envolvidos na respiração. É uma doença terrível, e infelizmente a ideia senso comum é a de que seu portador aos poucos torna-se uma pessoa ‘paralisada’, condenada a ficar presa em
seu próprio corpo, e tendo por companhia apenas o próprio pensamento. O que não é o caso de Alexandra.
Por incrível que pareça, com a ajuda de familiares, amigos, e da tecnologia, Alexandra escreveu ‘desCasos’ apenas com o movimento dos olhos, fato que surpreende e demonstra o quão incrível e poderosa essa mulher é. Com uma vontade de viver surpreendente, a Alê narra casos reais da época em que advogou gratuitamente para pessoas carentes.
Formada pela Faculdade de Direito da USP, e trabalhou com o direito penal ao lado de Alberto Zacharias Toron, um dos mais renomados advogados penalistas do país, sendo hoje reconhecida não apenas pela sua qualidade técnica e empenho na advocacia, mas também por ser um dos maiores exemplos de superação e garra quando, diante de uma sentença aparentemente de morte, materializa sua paixão indescritível pela vida e pela busca da Justiça em duas pequenas obras. Mas de pequena só tem o tamanho: é imensa em humanidade.
A você, Alexandra, toda minha admiração.
[Imagens retiradas do Google]