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Final de ano, Fuvest e algumas lições memoráveis.

Meme indispensável

É fim de ano e não podem faltar a piada do pavê, a uva passa na maionese, o show do Roberto Carlos na Globo e, claro, as reflexões de fim de ano 😛

Lembro que, nessa mesma época, entre oito e seis anos atrás, eu vivia um dos meus maiores desafios até então, o vestibular da Fuvest.

E o que, de início, era apenas a busca de uma vaga em uma universidade pública, foi algo muito maior, pois me ensinou algumas das minhas maiores lições.

Faculdade de Direito do Largo de São Francisco – USP, um caso de amor adolescente.

Desde 2008 eu sonhava em estudar direito na USP e sabia que o vestibular, como é de costume com toda universidade pública, era muito concorrido.

O problema é que eu não era o tipo ideal de aluna, com ótimo desempenho. Eu era um caso atípico: obsessivamente estudiosa com minhas paixões, mas um completo fracasso com o que eu detestava.

Apesar dessa característica me levar às carteiras de reforço em tudo que envolvesse números, eu não enxergava isso como um problema muito grande porque, na época, a segunda fase da Fuvest só exigia matérias em que eu ia muito, muito bem.

Aí, eu pensava: “passando no corte ou um pouquinho acima, na segunda fase eu tenho chances”, e empurrava minhas fraquezas com a barriga.

Só que, para meu desespero, em abril de 2009, bem no terceiro colegial, as regras do jogo mudaram.

Lembro quando a orientadora do terceiro ano entrou na minha sala e contou a novidade: “agora, na segunda fase de direito da Fuvest, o primeiro dia de prova continua sendo só português, mas no segundo dia caem todas as matérias e no terceiro dia caem questões específicas de história, geografia e matemática”.

Ela mal tinha saído da sala e eu comecei a chorar, pensando “nunca mais passo nessa prova”, “nunca estudei matemática, não sei nem somar os dias do meu aniversário direito”, “o sonho acabou”, e por aí vai. Um drama sem fim.

Só a notícia da mudança no vestibular já foi o suficiente para eu desistir do ano letivo todo.

Juro que não sei como formei porque, no restante do tempo, eu já tinha assumido que eu era um fracasso, não conseguiria resolver em alguns meses deficiências de uma vida toda, e só me restava dormir e fazer coisas aleatórias nas aulas das matérias detestadas. Continuei tirando notas horríveis nelas e segui o baile.

Mas o sonho de estudar direito na USP não saiu de mim e foi aí que eu percebi que, para realizá-lo, eu precisaria partir do zero e focar em desenvolver minhas deficiências. Fiquei dois anos no cursinho e não foi um período fácil.

Vai ter sempre alguém com “boa intenção” querendo dar pitaco na sua vida. Não dê ouvidos.

Eu me sentia muito burra, sentia que demorava tempo demais em coisas que aparentemente eram fáceis para outras pessoas e no primeiro ano de cursinho eu sentia raiva quando não entendia as aulas ou não conseguia fazer as lições das matérias que eu ia mal.

Sentia raiva por não saber, por demorar e por errar.

Também me sentia inferior porque me comparava com as outras pessoas o tempo todo e elas sempre pareciam ter melhor desempenho, divertirem-se mais, terem mais amigos.

Atire a primeira pedra quem nunca pensou em eliminar a concorrência.

Vivia preocupada especulando sobre o futuro (“O que vai ser de mim se não passar?”, “E se eu for para uma faculdade particular e acontecer algo, não conseguir pagar?”) e não conseguia me concentrar no presente. Esses sentimentos horríveis me faziam mal, mas até então eu achava natural. Pensava que era assim mesmo.

No primeiro ano de cursinho eu fui para a segunda da fase, mas não fui aprovada.

Quando saiu o resultado do desempenho na prova, vi que tinha ficado bem perto do número de vagas e aquilo me motivou. Pensei: “Bom, consegui evoluir muito de um ano para o outro, quase consegui… é possível, então vou tentar de novo”.

Foi só no segundo ano que eu percebi que, além de focar em estudar as matérias nas quais eu ia mal, eu precisava mudar a minha mentalidade e o meu sentimento em relação ao que eu fazia.

O percurso precisava ser prazeroso e tranquilo. Era preciso internalizar que a minha jornada era única e que era questão de tempo e treino até eu atingir meu objetivo.

Cada um de nós tem histórias de vida muito peculiares, com desafios diferentes. Sorte de quem teve uma infância tranquila e desde sempre, com naturalidade, sentou a bunda na cadeira para fazer lição.

Parabéns àqueles que, apesar de todas as adversidades, conseguiram desde cedo não deixar as emoções abalarem o desempenho em outras áreas da vida. Mas eu não era assim, e o primeiro passo foi aceitar isso.

Se eu não me sentia motivada e não tive disciplina em estudar quando estava no colégio, tudo bem, porque um pedaço da minha história não sela meu destino.

Aos poucos mudei a mentalidade de “eu sou um completo fracasso nas exatas, está tudo perdido” para “eu ainda não sou boa nisso, mas vou conseguir”.

Internalizar esse novo jeito de pensar não foi simples. Ainda tinha dias em que ficava angustiada e triste. Mas foi passando, passando, passando… Lá para o meio do segundo ano de cursinho eu quase não tinha sentimentos ruins. As coisas fluíam.

Fuvest feelings

Deixei de me comparar com colegas e amigos. Passei a gostar do percurso e a apreciar cada pequena vitória.

Um exercício que eu não conseguia fazer no ano anterior e, naquele ano, eu conseguia, era algo que me enchia de animação.

Passei a enxergar as coisas como um desafio a ser superado, com curiosidade e motivação. Errar deixou de ser tão ruim. As recaídas? É claro que aconteceram, mas me recuperava mais rápido.

Em novembro, quando as provas chegaram, eu sentia que tinha feito tudo que estava ao meu alcance, tinha feito o meu melhor dentro do que era saudável para mim, e estava em paz. Fiz as provas com tranquilidade, otimismo e já com um “Plano B” em mente caso desse errado de novo.

Final da história? Passei ♥

AAAAAAAAAaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Mas, Priscila, por que você escreveu esse textão todo??

Primeiro, porque gosto de escrever, risos.

Segundo, porque essa experiência me trouxe três dos meus maiores aprendizados até hoje, os quais merecem ser revisados e compartilhados:

  1. Nossa mentalidade é poderosa e o jeito de pensarmos é o que nos conduz à estagnação ou à evolução. Somos nós quem escolhemos se encaramos as coisas como um atestado de fracasso ou como um desafio a ser superado. Não é fácil mudá-la, mas é possível.
  2. Razão e emoção não estão dissociadas. O jeito de pensar influencia diretamente nos nossos sentimentos, e vice-versa. Cultivar bons pensamentos, entre eles o de aprender a se automotivar, nos ajuda a evoluir, conquistar nossos objetivos e sermos quem queremos ser 🙂
  3. O domínio de uma habilidade mestra: aprender a aprender. Se eu não sei algo, posso descobrir como fazer pesquisando, copiando ou pedindo ajuda a quem já sabe. Aprender a aprender traz autonomia e autoconfiança.

Esses três aprendizados servem para qualquer área da vida. Minha primeira experiência foi com o vestibular da Fuvest, mas, depois, retomei eles em outras ocasiões, especialmente duas: na faculdade, quando sentia dificuldade em fazer amigos, e no trabalho, quando me deparo com assuntos que eu não faço ideia por onde começar.

A respeito da mudança de mentalidade, recentemente descobri a Carol Dweck, professora de psicologia da Universidade de Stanford e autora do livro “Mindset”, bem comum entre quem estuda desenvolvimento pessoal.

No livro, ela discorre sobre como nossa atitude mental para os desafios da vida pode nos conduzir aonde queremos chegar.

Deixo com você esse TED feito por ela:

Espero que ele inspire você nesse novo ano que se inicia, e que 2018 seja repleto de amor, paz, saúde e evolução pessoal para todos nós ♥

E você, já passou por algum desafio? Quais aprendizados ele trouxe? Me conta nos comentários 🙂