Para a vida ficar mais leve

Um novo roteiro para uma relação a dois

Ser filha de pais divorciados é um fenômeno interessante, especialmente se o divórcio ocorre numa idade em que já temos alguma consciência da vida. É que a separação já existe, mas de um jeito muito peculiar, muito antes deles morarem em casas diferentes.

Você sente que a conexão emocional entre seus pais é pouca ou nenhuma (você não os vê conversando sobre a projetos comuns, incentivando sonhos um do outro, ou agradecendo a existência do par).

“Eu estou me divorciando do seu pai”

Pode ser que seus ouvidos sejam reféns da reclamação constante que um fará do outro. Em casos mais graves, é capaz de seus olhos serem testemunhas de agressões mútuas, verbais ou físicas.

Hoje, penso que o pior nem é sentir, ouvir ou ver essas coisas. O pior é que, se não estivermos conscientes, corremos o risco de crescer com algumas crenças tóxicas e seguir o mesmo destino.

Por exemplo, acreditar que é normal que um dos dois se sinta infeliz porque abriu mão de suas realizações pessoais e da vida social autônoma. Ou que sofrer faz parte, porque nada é fácil. E a crença mais destrutiva de todas: tá ruim com ele, mas é pior sem ele.

Até que os pais finalmente morem em casas separadas e sigam suas vidas, por estar acostumada a ver uma dupla insatisfeita vivendo sempre em looping emocional ou num deserto de indiferença, você corre o risco de pensar que o fracasso e o sofrimento são o fim inevitável do amor.

E aí, a desgraça está feita: você deixa de ter critérios com os seus relacionamentos, aceita migalhas de afeto, perde a própria individualidade e, no pior dos cenários, reproduzirá com seu par todo o drama. A desgraça na vida afetiva se torna uma profecia autorrealizável.

Será?…

A verdade é que nem todos os filhos de pais com relacionamentos ruins estão condenados a serem infelizes no amor.

Desviando do inimigo

Durante muito tempo, quando mais jovem, na minha cabeça a solução para não ficar num relacionamento infeliz era não me relacionar. Simples assim.

Jovem Priscila falando sobre relacionamentos: “Então, é assim que a liberdade morre…”

Depois, já mais crescida, entre a adolescência e o início da idade adulta, me transformei naquele tipo de pessoa que até queria um relacionamento, mas… no máximo namorar. Mais do que isso? Nem pensar!

A palavra “casamento” doía no meu ouvido e no meu coração, soava como uma sentença de morte, porque, para mim, significava a perda da minha liberdade e o início de uma vida de submissão e dependência.

Quando alguma amiga minha comentava sobre o sonho de casar, ou quando eu via casamento de pessoas jovens, na faixa dos 18 a 25 anos, dentro de mim eu sentia um misto de pena com alívio.

Eu costumava pensar algo do tipo: “Coitado deles, iludidos, estão perdendo a vida! Se soubessem como é de verdade, jamais teriam feito isso… Sorte que não corro esse risco!”.

A minha arrogância era alimentada pela ingênua ideia de que não me relacionar e, principalmente, não me “casar”, era um jeito fácil e indolor de não correr o risco de passar por situações ruins. Mas eu estava enganada.

Tentando fugir das desgraças da vida sem me molhar. Um fracasso, obviamente.

É que a vida ensina, das piores maneiras possíveis, que as situações ruins virão de todo jeito, e que elas não têm nada a ver com estar solteira, namorando ou casada.

Por mais que a gente tente evitar, não dá para impedir que elas aconteçam. E, se acontecerem, o que importa são as decisões que tomamos depois delas.

É decidir entre sucumbir ou seguir em frente, permanecer em situações de sofrimento ou corrigir a rota.

O fato é que a falta de autoconhecimento fez com que eu me relacionasse com pessoas que eu não admirava ou perdi a admiração, que possuíam valores e propósitos muito diferentes dos meus e com as quais eu não tinha visão de futuro.

Isso gerou desgaste emocional e decepções, porque ao invés de procurar pessoas realmente compatíveis comigo, ou eu esperava que elas mudassem para se adaptarem a mim, ou era eu quem se esforçava para me adaptar. É óbvio que ia dar problema.

E a falta de autoconhecimento, somada com crenças negativas e a falta de bons exemplos de relacionamentos, fez com que eu aceitasse por muito tempo relações ruins porque pareciam “normais”, afinal, eram a única coisa que eu conhecia e que, inconscientemente, eu acreditava que merecia.

Como mudar?

“Conhece-te a ti mesmo” 

Se você quer tomar melhores decisões, é preciso ter clareza sobre quais são seus valores (o que é importante para mim?), quais são seus limites e até onde você está disposta a ceder (o que é tolerável e o que é intolerável para mim?), e qual vida você quer ter (qual o meu propósito? como me vejo no futuro?). Sabendo bem isso, as chances de errar nas escolhas – e de insistir no erro – diminuem.

Não existe resposta certa e pode ser que novas vivências mudem você, assim como mudam as outras pessoas, e tudo bem. Inicie sua trajetória com clareza sobre o que você quer, mas aceite a mudança (sua e do outro) como um fato da vida.

Dito isso, não insista em relacionamentos difíceis. Você tem o poder de decidir ter relacionamentos melhores, verdadeiramente compatíveis com você.

Mude o foco: os bons exemplos mostram que é possível

Eu já contei para vocês que eu costumava ser uma pessoa muito pessimista quando o assunto era relacionamentos de longo prazo. E realmente é difícil não ser, porque se não bastasse a minha experiência individual de filha de pais divorciados e de relacionamentos fracassados, a televisão e os jornais não ajudam.

Não faltam notícias de maridos que agridem esposas e filhos, casais com brigas horríveis, traições de ambos os lados, pais negligentes e tudo o mais.

O que fazer para acreditar? Mudar o foco. Procure bons exemplos e inspire-se neles.

Existem vários casais fofinhos, com estilos de vida e crenças religiosas muito diferentes uns dos outros, que mostram ser possível, sim, ser feliz a dois.

Vou mostrar alguns que me inspiram:

1. Lola, autora do Blog Lola Escreva Lola, é professora universitária, feminista, e está junto do seu maridão a 27 anos. Ela já escreveu textos (leia clicando aqui e aqui) sobre como se conheceram e o relacionamento deles hoje. É admirável o companheirismo dos dois e o jeito carinhoso com que a Lola fala do maridão até hoje, depois de tanto tempo de casados. Fofura que aquece o coração ♥

2. Michelle e Barack Obama são casados há 25 anos e continuam fofinhos juntos. Vira e mexe tem foto de um brincando com o outro em eventos oficiais. São a prova viva de que dá pra ser um casal duradouro, poderoso, e nada chato.

3. A Bella Falconi e seu marido Maguila são outro casal inspiração. A amizade e o companheirismo entre os dois me ajuda retomar a fé na humanidade, sério.

4. Thaís Albuquerque, do instagram @avidamedicina, é casada com o Du há dois anos, namoraram seis. Thaís é formada em psicologia e resolveu mudar de carreira e de cidade aos trinta anos. Pouco depois do casamento, descobriu um câncer de mama. Du está com ela em todos esses momentos. Eles são fofinhos por demais, Deusa do céu.

5. Fabiola Melo é uma youtuber cristã e, salvo engano, está casada com o Sam há quatro anos. Em seu canal, Fabiola fala muito sobre espiritualidade, evangelho, vida de casada e coisas do dia a dia. Ela casou muito jovem e tem um estilo de vida e crenças completamente diferentes das minhas. Não sei como descobri ela na internet, só sei que conhecê-la me fez refletir, repensar e perder muitos dos meus preconceitos em relação à religião e a casar, haha! Nesse vídeo eles exploram algo que eu considero ser essencial em um relacionamento: enxergar potencial em seu par, apoiá-lo e ajudá-lo a viver uma vida extraordinária.

6. Bon e Pon são um casal japonês com mais de 60 anos idade e mais de 30 anos de casados. Eles têm um Instagram (@bonpon511) em que postam looks combinando, muito fofinhos! Se isso não é sintonia, eu não sei o que é.

Ter mais consciência de quem somos nos ajuda a tomar decisões melhores. Ter bons exemplos em mente nos mostram que é possível.

Se você quer um relacionamento, mas está desacreditada, lembre-se disso: não deixe que as experiências ruins te impeçam de tentar de novo, porque você merece ser feliz.

Espero que esses exemplos ajudem você, assim como me ajudam ♥